#FILMOTECA# - "Metanoia" (2015)

Fonte: Divulgação (Pinterest)

Sinopse: Eduardo cresceu na periferia de São Paulo e teve uma boa educação de sua mãe, Solange. Apesar disso, Eduardo mergulha no universo das drogas e se torna usuário de crack. A mãe, desesperada, tenta ajudar o filho a se livrar da dependência química.

Um dos temas mais arriscados de se tratar no cinema é aquele que mais se aproxima de uma possível realidade dos seres humanos (não necessariamente os filmes baseados em fatos reais, mas sim, aqueles que se utilizam de situações cotidianamente complicadas para criar um roteiro). Isso porque, a narrativa precisa ser pautada em aspectos visceralmente brutais e que sejam extremamente contundentes com algum momento atual (ainda que o mesmo seja atemporal)... Neste cenário, Metanoia tenta (e tenta muito!) ser um filme impactante, mas acaba fazendo de uma maneira um tanto quanto equivocada.

Fonte: Divulgação (Agente Gospel)

O filme acompanha de uma forma comovente a trajetória amarga e dolorosa de um jovem de boa educação que de repente se vê perdido em meio ao mundo das drogas, ao passo que sua mãe tenta - de todas as formas possíveis - resgatá-lo desse abismo antes que seja tarde demais, para ambos.

Um das grandes apostas dos roteiristas é intercalar o projeto em dois momentos: os mais violentos onde há a deterioração física e moral do protagonista pelo uso excessivo de diversos tipos de drogas e os momentos onde há a busca pela redenção até chegar ao caminho que ele precisa encontrar para sair desse labirinto mortal. Dessa forma, o roteiro trabalha com várias passagens, mas faz questão de mostrar - isoladamente - o início, o meio e o fim de todas fases que vive um drogado.

Fonte: Divulgação (Cinema & Artes)

Há o momento da sedução pelo vício (quando Edu conhece um amigo rico que lhe apresenta um mundo de drogas mais pesadas... porque até então, o que ele fumava era apenas maconha), depois há o período da concretização pelo vício (atingindo os níveis de vender os pertences pessoais para pagar dívidas e comprar mais drogas, além de começar a assaltar e causar vandalismo para o mesmo fim) que se segue pela troca da própria casa como moradia fixa pelas ruas da cracolândia e por fim, a luta pela reabilitação que vem pela ajuda de ONGs.

Há de se convir que esse tipo de temática retratada no cinema nacional ainda não ganhou o espaço devido (eu pelo menos não assisti a tantos filmes, e nem tenho conhecimento, que tratem o tema pelo olhar de um viciado), mas infelizmente, não é com esse exemplo que haverá uma representatividade mais forte e mais relevante nesse subgênero cinematográfico.

Fonte: Divulgação (Interfilmes)

Um dos maiores problemas aqui é o alongamento da história. Contando com 145 minutos de projeção, o filme acaba arrastando todos os eventos que são os pilares (já mencionados pouco mais acima, em outro parágrafo desse texto) de uma forma meio cansativa, embora muito bem intencionada. Além disso, o elenco tem atuações meio precárias e apáticas (com exceção dos ótimos dos atores Solange Couto e Caio Blat) que se tornam, em diversos momentos, forçadas e esquecíveis.

Os personagens tentam ser construídos com base em uma complexidade dramática (e isso é reforçado na relação entre mãe e filho, que lutam juntos a mesma batalha), mas ficam em uma simbiose meio entediante pela falta de aprofundamento na essência de cada um deles.

Por fim, há uma tentativa no roteiro que é um viés claro as questões religiosas. Não que isso seja um erro (ou algo proibido), mas a maneira como esse argumento foi introduzido nesse filme faz com que haja uma diminuição do poder da trama (porque às vezes tudo soa de maneira muito aleatória), que termina sendo nada mais do que um folhetim didático sobre os transtornos de quem é acometido pelo vício das drogas.

Fonte: Divulgação (Cinema na Veia)

Não há como negar que Metanoia trata de um tema pesado, indigesto e muito complicado de ser abordado (e isso por si só já é um mérito muito grande), e apesar de se esforçar bastante para causar um choque no telespectador (algo que por alguns momentos consegue fazer, ainda que não seja um acerto completo) fica apenas no campo de uma boa promessa que acabou não funcionando exatamente como deveria (ou desejaria).