Metaforize a sua vida

Ironia, sarcasmo, eufemismo, antíteses e metáforas. Essas são as figuras de linguagem que consigo me lembrar de prontidão sem consultar em nada. Pelo menos mais de 26 delas existem no repertório da Língua Portuguesa. Muitas delas passam despercebidas pelos nossos ouvidos ocupados.

Até mesmo os menos familiarizados com os seus significados, fazem uso dessas palavras para criar mais expressividade no discurso. Provavelmente, a mais conhecida e usada sejam as metáforas.

Particularmente, é a minha queridinha, graças ao seu poder de embelezamento. Pelo jeito, eu não sou a única já que desde 1980, existe uma publicação sobre o tema, o livro Metáforas da Vida Cotidiana, de George Lakoff e Mark Johnson.

Um dos atributos que uso para identificar uma boa escrita é o uso de metáforas. Com elas, é possível criar atalhos lógicos na mente, eternizando conceitos, teorias ou histórias de uma maneira prática.

Nunca vou me esquecer dos “segredos de liquidificador”, de Cazuza; da “gravidez de futuro”, descrita por Clarice Lispector ou das “Casmurrices”, de Machado de Assis.

“Com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”

Cada um deles teve a perspicácia de criar um quadro na nossa mente. É como se lendo ou escutando essas palavras pudéssemos entender de uma forma melhor o sentimento proposto.

Com o tempo, essas expressões podem virar de uso comum para explicar uma situação ou uma cultura. Assim nascem os ditados populares como reflexo do espelho do entendimento de alguém para explicar algo profundo ou técnico demais.

Ainda que não virem nada popularmente dito, é interessante observar. Verdadeiramente, cada um tem a sua metáfora para qualquer ato. Fernando Pessoa escrevia para salvar a alma e Gabriel García Márquez para que os seus amigos o amassem mais.

Em relação à vida, Pessoa a via como uma sombra que passa sobre um rio. Enquanto, Shakespeare via o mundo como um palco; mais de dois séculos depois, Scott Fitzgerald perceberia os seres humanos como barcos contra corrente.

Tudo reserva uma metáfora para a vida. Fazendo uso, você vira o ourives dos poetas. Parece que é isso que faz as coisas ultrapassarem significados para diminuir o incompreensível, chato ou irremediável. O que seria dos humanos sem elas para acalmar e inspirar a alma?