Consciência de classe - como eu aprendi "na prática"

in #pt5 years ago

Era para ser um evento acadêmico comum, mas antes do café da manhã as coisas já ficaram estranhas. Nos dividiram aleatoriamente em 4 grupos de cores diferentes e disseram que havia 4 mesas de café da manhã, cada uma sinalizada com uma cor.

Fui entrando na sala, já vendo uma mesa bastante farta e variada. Mas não estava sinalizada com a cor do meu crachá. Mais à frente encontrei outra mesa, um pouco menor e com menos opções do que a primeira. Ainda não era a minha. Andei mais um pouco e vi uma mesinha escolar com pouquíssimas coisas em cima. Café, leite e pão seco. Meu semblante foi ficando cada vez mais tenso. A essa altura eu já esperava o pior, mas o pior que eu encontrei era pior do que imaginei. O cartão que sinalizava a cor do meu grupo não estava sobre uma mesa, estava no chão. É, no chão. Do lado de um pedaço de rapadura e uma garrafa pet com água.

Quando todos estavam a postos percebi que o grupo que estava na mesa mais farta era composto por pouquíssimas pessoas. E que quanto menos farta era a mesa, maior era a quantidade de pessoas. De forma que o meu grupo era o mais numeroso de todos.

Ah legal, pudemos ver na prática como funciona a desigualdade social, a injusta distribuição dos recursos e tal. Mas achei que iam trazer nosso café da manhã logo depois. Ou que nos deixariam comer da mesa farta. Mas não. Retiraram todo o alimento que restou e tivemos de dividir a rapadura e a água entre várias pessoas. Antes isso que nada.

As palestras começaram com metade da turma praticamente em jejum. A certa altura nem conseguíamos mais prestar atenção, pois o estômago roncava alto. Um mal humor generalizado era facilmente percebido. Resmungamos, fizemos cara feia, pedimos para comer. Nos ignoraram por várias horas seguidas. No fim da manhã, após terminarem todas as palestras, finalmente nos trouxeram algo para comer e um bilhetinho fofo:

Imagem 013.jpg

Em absoluto silêncio, comemos o pão que a nossa consciência amassou.
De tão pesada que ela ficou.

Sort:  

Saudações, senhorita Aliny

Eu li alguns de seus textos hoje, eu iria até comentar e votar, mas, já passaram os 7 dias. Acabei de ler a sua trajetória gamer hehehe. Eu também tive a minha. Começou com atari na década de 80, depois mega-drive e super nintendo na década de 90, No final dessa década não tive mais video-game e joguei apenas jogos de computador mesmo. Jogo até hoje viu!!! Ou seja, comecei aos 5 anos e estou há 30 anos jogando. Porém, hoje, por não ter tanto tempo e dinheiro para gastar com jogos, eu rodo aqui no pc um simulador de android e jogo uns joguinhos simples. Hoje os jogadores estão muito competitivos e o clima é quase sempre de ter que derrotar o adversário. Quando eu era mais novo não era assim não....

Joguei o pitfall também. Aquele joguinho de atari que o carinha pula por cima dos jacarés. Acho que o nome é esse. Depois, topei com ele novamente ou no mega drive ou super nintendo.... Ficou legal também...

Acho que um heroína bem legal que você não citou é a Lara Croft, além da mulher do golden axe.... Me lembro dessas duas agora.

Em relação á seu texto de hoje, achei bem legal. Essas coisas fazem com que pensamentos em nós possam ser criados. Quando fiz psicologia, entrei em contato com um mundo muito diferente do meu. Lá eu pude ver como simples comentários do cotidiano podem afetar a população lgbt, por isso, eu não julgo tanto quem faça esses comentários por exemplo, pois, sei que pode não ser por maldade, apenas por uma empatia que ainda não foi criada. Acredito sempre que a pessoa pode aprender á enxergar a dor do outro, contanto que ela não tenha algum transtorno de personalidade anti-social, como psicopatia, por exemplo...

Obrigado e desculpe pelo texto longo. Boa noite!

Eu desisti de votar nos seus posts porque sempre tem muito valor em $, sugando completamente minha recompensa de curação...

EDIT: Se bem que você já recebe votos de mais que $0.3 do "serviço de curação" @brazilians todo santo post, enquanto muita gente com posts pelo menos tão bons quanto os seus (como os da própria @aliny) estão sendo ignorados, então deixa pra lá.

@julisavio, pitfall foi o meu primeiro de todos rs. Então, sobre essa coisa da empatia, eu acho que é isso mesmo. É uma habilidade social que precisa ser desenvolvida para poder se manifestar né. Eu adoro situações que nos proporcionam esse contato com realidades diferentes da nossa. Acho que estimulam nossa empatia.

Gosto dos seus posts que nos trazem ao mundo real. Você relata situações que incomodam quem vive bem e não conhece o dia a dia de sobrevivência de muitos... muitos infelizmente... E é necessário incomodar mesmo, pra elucidar mentes que vivem nessa maldita bolha ignorante.

Me sinto honrada pelo seu comentário, @novogel. Que muita bolhas sejam estouradas. Rs

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