Suicídio não é fuga, às vezes é a única saída. #Reflexão

Ontem logo após o almoço recebi através de amigos, a notícia de que um rapaz de 26 anos recém-formado em direito, se suicidou no banheiro da Universidade em uma cidade vizinha à minha, por ingestão de cianeto.
 
Por mais que eu não conhecesse o rapaz, não é uma notícia fácil de digerir, pelo menos para mim, pois já fico imaginando: o cara tinha 26 anos, uma vida inteira pela frente.

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Em outro Campus desta Universidade, ano passado uma menina de 22 anos, no dia do aniversário da irmã, também se suicidou, se jogou do terceiro andar do prédio, ano retrasado, outro aluno e um professor, ambos por ingestão de remédios.
 
Mas isso não é exclusividade dessa Universidade, pelo país existem vários e vários casos que nem imaginamos, muito disso porque a mídia é proibida por uma lei Federal de noticiar suicídio de não famosos, ou seja, de quem não está na mídia.
 
Voltando ao caso de ontem (12/02/2019), algo que me chamou a atenção foi que o rapaz teve o cuidado de deixar uma carta de suicídio aberta ao público no Facebook, e ainda avisou em um grupo fechado desta rede social, segundos antes do ato, o que faria e onde faria. Se você leu até aqui e pensa que a pessoa fez isso para chamar a atenção para si, mude de ideia ou pare a leitura aqui, pois ninguém toma cianeto para chamar a atenção.
 
Li todo o conteúdo do post deixado pelo rapaz, não vou compartilhar o conteúdo e nem seu nome aqui, pois da mesma forma que na postagem haviam alertas para quem convive com pessoas depressivas e potenciais suicidas, também existe conteúdo que pode dar ideias a estes.
 
Sinceramente, essa situação me chocou bastante, pensei, poderia ser minha filha no lugar dele (tenho uma filha de 16 anos), poderia ser um amigo, um parente ou qualquer colega meu.
 
O fato é que nesta carta, o rapaz escreveu uma coisa que me chamou a atenção, algo do tipo: a dor de conviver neste mundo e não ser quem os outros esperam que você seja, não é igual para todos, para alguns é suportável, para outros não.
 
Realmente, a cobrança da sociedade que vivemos é intensa, precisamos ter, saber e ser, e, muitas vezes essa cobrança vem da própria família e na maioria das vezes, tentam te moldar da forma que eles querem que você seja e não te dão liberdade para seres quem és.
 
E às vezes essa cobrança se torna tão insana que a pessoa precisa de uma válvula de escape, seja no álcool, drogas, remédios (que são drogas lícitas) ou qualquer outro tipo de fuga do real, mas às vezes, a única solução para a pessoa é realmente, tirar a própria vida, mesmo assim, muitos tentam permanecer neste mundo insano, no texto que li ontem, ele disse que pensava em suicídio desde os 12 ou 13 anos.
 
Ontem, refleti bastante acerca desse último ponto, pensei, onde estavam esses pais nos últimos 13 anos de vida desse jovem (quero deixar claro que a intenção não é prejulgar ninguém, até porque, agora eles terão o restante de suas vidas para analisarem seus erros). Colocando-me no lugar de pai que sou, graças a amizade que construí com minha filha nestes 16 anos, consigo perceber pequenas alterações de comportamento, onde estavam esses pais?
 
Hoje eu entendi, lendo relatos de amigos dele, o rapaz era adotado (não sei se foi abandonado ou era órfão), homossexual e seus pais religiosos. Não que ser religioso seja ruim, mas o fanatismo é sim. Em vários pontos do texto, ele cita que a culpa da sua decisão não é relacionada aos pais e tenta isentá-los, mas em um determinado trecho ele deixa escapar, consciente ou inconscientemente, esse fanatismo religioso. Um trecho onde se dirige a todos os pais dizendo que: não esperem perder um filho para entender que a imposição de sua religiosidade e dos seus ideais de vida, não são bons.
 
Durante seu texto (bem grande por sinal), diz que tentou encontrar nos amigos força para se manter vivo, mas poucas pessoas realmente o entendiam e o ajudavam, e como ele mesmo disse, infelizmente são poucas pessoas para livrar o mundo do caos que ele está inserido.
 
Agora este texto aqui no Steemit, é apenas uma forma de externar um grave problema da humanidade contemporânea, quem sabe talvez, uma forma de aumentar a quantidade de pessoas dispostas a ajudar o próximo, e, quem sabe, juntos consigamos livrar esse mundo do caos.
 
Essa situação me deixou consternado desde ontem, não pelo fato apenas de poder ser minha filha ou qualquer outra pessoa do meu círculo em seu lugar, mas pelo fato também, de encontrar o nome e citações de vários pensadores e literatos, como: Schopenhaur, Fernando Pessoa, Charles Bukowski e Freud.
 
Talvez um grande intelecto tenha sido perdido, e é justamente isso que esse mundo precisa, de grandes intelectos e pessoas que pensem fora dos padrões convencionais, mas é justamente isso que leva a um paradoxo, porque pessoas que pensam fora dos padrões convencionais são isoladas ou brutalmente criticadas pela sociedade que não consegue sair, ou às vezes, nem vê esses padrões.
 
Para finalizar esse texto que também já se torna extenso, gostaria de pedir apenas às pessoas que se preocupam com o próximo, que sejam o diferencial na vida de quem precisa, deixem suas crenças de lado, sejam elas religiosas, morais ou de qualquer tipo que seja.
 
Nunca digam a um potencial suicida que tal ato desagradará a deus ou que a família sentirá a falta dele (a), muitas vezes, é essas pessoas ou esse ser mítico que um suicida quer atingir, sim, porque muitos suicidas possuem crenças, ou, às vezes a falta de força para continuar a viver nessa sociedade é muito maior do que qualquer amor ou crença. Por isso o título deste texto, suicídio não é fuga, às vezes é a única saída.



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