Vida sem destino, sem rumo certo, sem o amanhã...

in #pt6 years ago

Esse é o primeiro post de uma pequena série, na qual pretendo relatar um pouco da minha viagem para Jacutinga (MG) / Espirito Santo do Pinhal (SP) é que fica bem na divisa dos estados. Vou colocar no steemitworldmap em um dos posts.

Eu fui na casa da minha tia, mãe do @dmesquita, e tem uma outra casa, usada para visitas ou alugar, na ocasião a casa estava alugada para quatro homens.

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No final do caminho encontra-se a casa.

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Uma casa simples com dois quartos, cozinha e banheiro.
Dos quatro moradores eu tive mais contato com dois.

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Marcos, de preto, e o Eder (apelido boiada)

Eles se viram na casa, eles cozinham, limpam, arrumam... Os quarto são acostumados a conviver juntos. Acordam de segunda a sexta feira às 04h40 para fazer o almoço, preparar a marmita e ir pra roça.

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Um pouco da História dos dois

Marcos: Tem 36 anos, já foi casado duas vezes, tem dois filhos, um menino de sete anos e uma adolescente de 16 anos que já é casada, ele não tem mais contato com os filhos. Marcos me contou que já foi jogador de futebol, era goleiro e já foi reserva do Aranha (ex jogador do Santos) ganhava um bom dinheiro, mas perdeu a cabeça e gastou tudo com mulheres e bebida, consequentemente parou de jogar pelos motivos óbvios (não conseguia treinar de ressaca). Hoje ele é pedreiro, apanha café... Como ele mesmo falou "faço qualquer coisa".

Boiada: Tem 33 anos, foi casado com uma japonesa e morou oito anos no Japão, não tem filhos, o apelido vem de montar em bois nos rodeios, ele me mostrou um vídeo, também é motorista de trator, caminhão, colheitadeira, apanha café, batata...

Os dois se conheceram por conta da vida sem rumo, em uma plantação de café por ai, onde tem serviço eles vão. Os dois tem família (mãe), mas devido a vida sem destino não vão visitar.
Hoje eles estão apanhando café, quando acabar a "panha" se tiver um serviço de pedreiro eles vão ficar, se não tiver mais trabalho eles vão cair no mundo, onde aparecer serviço. Eles falaram "a gente chegou aqui só com a roupa do corpo e a vontade de trabalhar". Provavelmente Divinolândia (SP) para apanhar batata, mas não se sabe ao certo.

Essa vida eu até pensava que era legal, já até postei aqui, que era uma vida sem limites, andando e conhecendo o mundo, mas mudei de ideia. Essa vida de andar por ai tem um preço muito caro, a saudade, de um antigo amor, da família, dos filhos... Eles tem muitas histórias para contar, parece que é uma vida agitada, mas quando eles estão sozinhos o celular serve para matar a saudade, os olhos ficam vermelhos com vontade de chorar, logo disfarçam e sufocam as lágrimas.

Não, eu não sou forte o suficiente para ter essa vida. Você pode até estar longe, mas a saudade vai na mala, vai com você por onde for.

Uma curiosidade e uma ótima recompensa

Nos quatro dias que eu fiquei lá, o boiada não tirava esse chapéu de jeito nenhum, só pra tomar banho e dormir, o chapéu é muito especial para ele, foi um presente de sua mãe quando ele montou no primeiro rodeio, ninguém põe a mão nesse chapéu, os outros três amigos respeitam muito.
Eu também respeitei, mas no outro dia, sem mais nem menos ele pegou o chapéu e colocou na minha cabeça.

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As vezes faltam palavras, ou é difícil mesmo de falar, mas eu entendi que ele quis me dizer:
Você é um cara bacana e merece usar o meu chapéu.

Sabendo da importância desse chapéu, essa recompensa foi um enorme prazer, uma honra mesmo.

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Atos simples (usar o chapéu), que tem uma importância além do que se pode imaginar.

Muito legal esse relato, @belzunces.

Ato simples e complexo ao mesmo tempo!

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