Branca Rosa Mel

Meu verdadeiro nome é outro, mas prefiro usar este pseudônimo e preservar minha identidade, pois pretendo escrever sobre muitos aspectos secretos da minha vida, que para minha própria privacidade e segurança, é melhor que não sejam revelados.

Sou uma mulher de 30 anos, embora digam que eu pareça muito mais jovem. Outro dia mesmo, antes de vir para cá, quando no ponto de ônibus um desconhecido perguntou minha idade (sim, sempre sou abordada por estranhos) e eu pedi para que tentasse adivinhar, respondeu: 19. Realmente tenho aparência de adolescente, e isto para mim resultou em certa vantagem (ou não), cujo motivo será possível entender em algum ponto da narrativa.

Este nome que escolhi de certo modo me descreve fisicamente, pois tenho a pele muito clara, e qualquer pressão sobre ela faz com que fique rosada. Quando estou com calor (e aqui faz muito), meu rosto fica rubro. Tenho os cabelos e os olhos cor de mel e minha personalidade é dócil. Embora eu tenha também um lado violento (e sei brigar, pois pratico artes marciais), mas que fica perfeitamente disfarçado e só vem à tona em certos momentos críticos nos quais é imprescindível.

Nunca tive tempo para pensar e refletir sobre minha vida, que por sinal sempre foi muito intensa e frenética, embora interiormente eu me considere uma pessoa calma e tranquila, acho que fui arrastada pelas circunstâncias e levada pela correnteza dos acontecimentos, que foram se sucedendo uns aos outros como uma bola de neve.

Mas agora estou aqui sozinha em um local isolado, longe de tudo, em meio a natureza, de onde posso ver as montanhas ao longe, deitada na rede da varanda de uma pequena cabana. Estou tirando férias forçadas, e o lugar é tão silencioso e tranquilo, que escrever, e fazer exercícios físicos, são minhas únicas ocupações. Nem sinal de celular e internet funcionam aqui. E tenho que descer a pé vários quilômetros até uma vila se quiser mandar um e-mail, ou postar estes textos no meu blog.

Para escrever preciso lembrar, e quanto mais me lembro, mais me surpreendo, fico espantada e admirada de como tudo que me aconteceu até aqui nesta curta jornada foi muito louco e estranho. Digo “curta jornada”, mas tudo que vivi foi tão intenso que a mim parece já se passaram séculos. Em certas situações, mesmo alguns poucos minutos pareciam ser uma eternidade.

Este é um dos motivos que me levaram a tentar narrar estes fantásticos acontecimentos, simplesmente por eles serem extraordinários, definitivamente não levei uma vida comum. Além disto fui incentivada pelo meu chefe. Depois dos últimos eventos, ele achava que eu estava à beira de um colapso nervoso, então me mandou para cá e me disse que me faria bem escrever, como uma espécie de terapia.

Ficar aqui no meio do nada é importante para minha própria segurança, mas escrever? Sim. Me lembrei que quando eu era criança eu gostava muito de escrever. Eu tinha um diário. Então vou começar do começo, e voltar aos meus tempos de infância.

Sei que devem estar se perguntando: “Mas que diabo de vida louca é esta que ela viveu?” Eu deveria lhes dizer um pouco quem sou, e o que faço, etc. Umm, mas pensando bem talvez seja melhor que fiquem mesmo curiosos. Não quero pular etapas, por isto vamos do início...