O fim de Louis I d'Orléans e o Grand Hiver | Memórias de um historiador

Este dia está frio, um frio intenso. A neve cai forte, mas vagarosamente a beira do rio Sena, parece que neste ano o frio será ainda mais intenso. Onde estamos? Paris. Qual ano? 1407. O inverno parece ter chego antes da hora. Se continuarmos assim, logo os rios congelarão e até mesmo as carruagens logo poderão andar por cima das águas congelada dos rios. O Grand Hiver se aproxima. O Grand Hiver está chegando. As vias de Paris parecem mais desocupadas que de costume. Louis d'Orléans, o irmão mais novo do rei da França Charles VI, caminha apressadamente em direção ao Hôtel na Rue de Barbette – contam “a boca pequena” que a rainha estava a sua espera. Repentinamente, um calafrio o atinge a nuca – “Deve ser esse frio”, pensa Louis ao continuar por seu caminho. Estais a ir visita-la no Hôtel? – disse Raoul d’Octonville ao membro da casa de Valois, que ao se virar para responde-lo, viu que o acompanhavam um bando de dez ou dozes encapuzados. Atingido por vários lampejos vertiginosos o Duque d'Oléans é completamente esfaqueado desabando ao chão. A rue de Barbette agora está escarlate. De seu corpo sangue jorra. Intenso e forte como o inverno. Respingam das lâminas salpicando de rubro o tecido do capuz de cada um de seus assassinos frios. Frios como o inverno que se aproxima. A pele do duque que há pouco estava enrubescida do frio, agora se torna cada vez mais pálida e sem vida. Ainda ontem, seu tio, o erudito Duque de Berry, fez com que os sobrinhos, Louis d’Orléans e Jean de Bourgogne, jurassem amor fraterno. Isso ocorreu na missa de domingo cujo Nosso Senhor Jesus Cristo, presenciou tudo como testemunha. Pelo visto, essa promessa não durou...

Tios e sobrinhos, primos e irmãos, os chamados príncipes de sangue, da Casa de Valois, bem como era de costume entre outras casas da nobreza europeia, eventualmente entravam em conflito. Entretanto, com a morte Charles V, o sábio e a sucessão de seu filho Charles VI, o bem-amado, ou “o louco” ao trono se potencializa a rixa familiar. Rixa, que até então, Charles V havia conseguido manter sob controle, distribuindo terras e privilégios aos seus irmãos, filhos do rei Jean II, o bom. Com o assassinato de Louis Duque d’Orléans, a última faísca que faltava foi atirada, e acendeu todo um cenário envolvido com substância altamente inflamável. Ou seja, diversos acontecimentos tinham ocorridos, ou até mesmo inventados e propagandeados como verdade, até a fatídica data de 23 de novembro de 1407, quando, sob as ordens de Jean Duque de Bourgogne, Raoul d’Octonville impulsionara quase três décadas da guerra civil no reino francês entre Armagnacs e Bourguignons. Conflito este que se entrelaçara externamente a persistente Guerra dos Cem anos favorecendo a tomada de Paris pelos Ingleses. Batalhas geradas por Guerras, civis ou não, com a participação dos reinos da França e Inglaterra são muitas. Seria contraproducente a essa pesquisa ficar presa descrevendo os incontáveis combates por territórios, genealogias de condados, ducados e reinos. No entanto pretendo contornar esse período belicoso e de fragmentação da cristandade no sentido de seguir um percurso que pressuponho relevante a compreensão do contexto sociopolítico que compôs e procedeu as décadas experienciadas por Christine de Pizan e sua sociedade contemporâneos. Para isso proponho deixar 1407 e retornar alguns séculos em direção ao passado, por volta do século XI.