A razão da loucura - Post 1

in #pt6 years ago (edited)

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Poster Divulgaçao:Fonte

Boa noite pessoal!

Hoje vou trazer aqui um filme/documentário chamado Estamira, do diretor Marcos Prato em sua estreia na direção, e produção de José Padilha, Estamira chegou aos cinemas em 2005.

E caminharei nessa serie de posts, trazendo a razão de Estamira, em sua forma de ser, junto a conteúdos sociais, e do funcionamento psíquico, trazendo algo que muitos ainda não sabem, e que a própria psiquiatria atual vem esquecendo em seu consciente, que a loucura nada mais é do que a razão, o esvaziamento afetivo, e a preservação pura da inteligência, para lidar com um real insuportável.

Estamos esquecendo que os dados, que são de extrema importância, mas mesmo assim não consegue dar conta do real, do que é vivido, e não escrito.

Temos que lembrar que estamos para além do sujeito da ciência, que já nos é dado pela cultura a qual pertencemos, deveríamos caminhar pela doutrina do conhecimento, e quem sabe lembrar que não há nada que substitua o contato humano.

E não só a medicina, a sociedade tem que lembrar disso.

Nesse documentário premiado, que percorreu vários países, e aqui no Brasil muitos ainda desconhecem, eu mesmo só fui conhecer esse documentário no início do ano passado, e certamente foi um corte na minha realidade, e na minha forma de entender a clínica, e nessa discussão talvez nos traga a reflexão do quanto estamos atrasados socialmente.

O mesmo social que nos torna humanos espécie única, e nos fez chegar nesse ponto da evolução humana, onde é um momento importante que lembremos disso, já que a ciência utilizada em seu racionalismo puro, nos colocara na direção de uma sociedade "psicótica", na "paranoia" das polarizações.

Temos tanto conhecimento disponível, saber utilizar a ciência como instrumento humano, assim como outros conhecimentos, diferentes saberes, diferentes formas de interpretar o saber adquirido em relação a singularidade apresentada na mente humana, de estarmos aberto a construir em conjunto, em forma de conhecimento, certamente nos colocaria em uma outra posição.

A vida nos ensina a cada segundo. Estamira como pessoa, nos ensina muito, e assistir esse documentário certamente é um grande aprendizado.

”A minha missão, além de eu ser a Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade…”

Tenho a sorte de ter o emprego que tenho, e poder aprender com muitas pessoas, praticamente todos os dias.

A consulta em si, é um aprendizado, ao mesmo tempo que estou a fazer a clínica de minha função de médico, me vejo na posição de aprender como cada pessoa entende o mundo, a sua realidade individual e sempre pretendo oferecer o meu saber em prol da singularidade de cada individuo, junto aos dados, teorias e recursos de tratamento que temos a nossa disposição hoje.

Ainda é uma vida longo aprendizado, de uma curva de aprendizado de muito longo prazo, não tem porque ser curto, e qualquer um pode aprender hoje com a acessibilidade e oportunidade que a internet oferece, ou mesmo interagir com conhecimentos diferentes acrescentando ao seu, e ainda podendo construir com indivíduos de outras áreas ou perspectivas do saber.

Só assim podemos entender tentar entender sofrimento alheio, com a verdadeira empatia. E somente o conhecimento e a ética nos dá a direção e os limites dessa função, de enorme poder sobre o outro, e como já dizia nos quadrinhos todo poder traz consigo uma grande responsabilidade.

E nem conhecimento, nem a ciência, são tão importantes quanto estar aberto ao relacionamento humano, a criar um vínculo com quem está a procura de aliviar um pouco a dor de suas almas, no acolhimento ao sofrimento, e na avaliação do tratamento.

Isso inclui primeiro o ouvir, o ver, o sentir, o interpretar, o pensar, o planejar, o explicar dentro da nossa interpretação, e por fim a decisão posterior de indica a psicoterapia e/ou as medicações.

Atuando no que se faz a clinica do individuo, e não a do profissional executante.

Para isso tem que estar disposto a ouvir, a entender, a não julgar pela moral, e sim pelo amor ao próximo, que pode ser feito por qualquer pessoa, profissional ou não, qualquer um que esteja disposto a entender o sofrimento do outro.

Assim, poderíamos discutir o documentário Estamira de diferentes caminhos e direções, e caminharei na livre escrita, que traz nosso do nosso inconsciente a direção que do somos(mesmo sem sabermos), pré determinados a segui-lo, isso mesmo, você(seu consciente) não é dono do livre arbítrio, e traz o que os instintos oferecem.

Nesse documentário Marcos Prado traz uma senhora chamada Estamira, de 63 anos, e seu cotidiano, que engloba seu lar, suas relações e seu trabalho.

Um pequeno recorte no dia a dia de mais um brasileiro, mais uma pessoa, lidando com o mundo real, que não é fácil a ninguém, porém para uns ainda é muito mais difícil do que para outros.

Poderia falar que é mais uma vítima do problema social brasileiro, mas prefiro dizer que é mais uma brasileira, mais um ser humano, pertencente a essa complexa sociedade, a mesma que se coloca na posição de acreditar que os culpados somente e tão só, são os políticos.

Além de que vítima, retira Estamira do mais importante, de uma pessoa que lutou a cada dia, para lidar com uma realidade insuportável, Estamira não é vitima, é só mais uma, no meio de muitos, e muitos, Estamira é uma sobrevivente.

O que está aberto ao julgamento pessoal de muitos, ao julgamento moral, que move indivíduos em uma sociedade, que vive o Narcisismo Freudiano, ou mesmo o Autismo de Bleuler, vive a indiferença do mundo real.

E caminhando pelo documentário, mesmo que pudesse vitimizar essa sobrevivente, esse julgamento se dissolve, à medida que vamos conhecendo um espectro da realidade de Estamira, e só nesse espectro, caminhamos pela incrível razão que essa pessoa nos traz.

Afinal como ela diz:

”se eu não fosse, eu nao era, e eu não seria”

Estamira traz um pouco de sua história, com suas próprias palavras, em sua residência, com sua família, e seu trabalho no Jardim Gramacho, um lixão localizado no município de Duque de Caxias no estado do Rio de Janeiro.

Nesse lixão eram jogados aproximadamente 8 mil toneladas de dejetos químicos e orgânicos, sem tratamento, que posteriormente eram jogados na orla marítima da Baía de Guanabara, sem nenhum tratamento, ou nada.

Vamos refletir com Estamira:

”Isso aqui é um depósito, dos restos, às vezes é só resto, e às vezes tem também descuido, resto e descuido. Quem revelou o homem como único condicional, ensinou ele a conservar as coisas.

E conservar as coisas é proteger, lavar, limpar e usar mais, o quanto pode, você tem sua camisa, você está suado, você vai tirar sua camisa e jogar fora. Você não pode fazer isso.

Quem revelou o homem como único condicional, não ensinou trair, nao ensinou humilhar, não ensinou tirar, ensinou ajudar.

Miséria não, mas regras sim, economizar as coisas é maravilhoso, porque quem economiza tem.

Então as pessoas tem que prestar atenção no que eles usam, no que eles tem, porque ficar sem é muito ruim.

O trocadilo fez duma maneira que quanto mais as pessoas tem, mais eles menosprezam, mais eles jogam fora. Eu, Estamira, sou a visão de cada um, ninguém pode viver sem mim.

Ninguém pode viver sem Estamira, eu me sinto orgulho e tristeza por isso.

Porque eles, os astros negativos, ofencível, suja os espaço, e quer-me, e suja tudo.

A criação toda é abstrata, os espaços inteiro é abstrato, o fogo é abstrato, tudo é abstrato. Estamira também é abstrato.”

Continuarei a serie de post nos próximos dias...



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Esse filme é pesado. Retrata muito bem até que ponto o ser humano chega à "loucura" e ao desespero.

Certamente. E como a sociedade se entrega a “loucura” da indiferença, acreditando que o político que faz política, enquanto nos que devemos fazer política e cobrar a atuação dos representantes. Obrigado pelo comentário @handrehermann

Exatamente isso, a indiferença inerente do ser humano

Sim. E que não precisa ser assim, se aprendermos a entender que o mundo não nos pertence, e somos nada mais que animais que precisam se ajudar para termos melhores condições de sobrevivência.

Você definitivamente escolheu um ótimo documentário para nortear a discussão (que por sinal, começou com o pé direito).

Obrigado @wiseagent! Refletir é preciso, talvez nos ajude em coletivo a encontrar caminhos menos excludentes.

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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