O início da reflexão do saber humano ocidental - Origem e desenvolvimento da Psicologia 5

in #pt6 years ago (edited)

Bom noite!

Voltamos hoje a série sobre a origem e desenvolvimento da psicologia como um saber humano, e terminaremos essa série.


Imagem Ilustrativa - Fonte - Pixabay

No último post terminamos em Aristóteles (384 -322) e a Teoria das sensações.

Para Aristóteles o homem é um todo (consensus unus), e assim não seria possível conceitos inatos, proveniente da natureza do homem em si, e assim todos os fatos da alma proviriam exclusivamente da sensação (aiesthesis). Não da natureza para o homem e sim do próprio homem para a natureza.

Da sensação nasceriam as fantasias, e as intuições, que viriam a compor a matéria pensante da compreensão, do entendimento.

Nobre de Melo traz:

Toda a Psicologia Aristotelica vem a ser, pois, como se ve predominantemente empírica, objetivista e naturalista. A observação e a experiência superpõe-se aqui, nitidamente, à reflexão conceitual e ao raciocínio especulativo. Deveras impressionantes, pela extensão e profundidade de sua visão psicológica, são com efeito os estudos que nos legou, principalmente acerca das paixões e do apetite.

Enquanto Platão sustentou em seu ensinamentos os conceitos pela subjetivação, representado pelo Teoria das Ideias, em que se assume o princípio universal de que tudo existe.

Aristóteles se coloca em oposição a seu mestre, em uma busca objetiva e prática, uma observação sistemática dos fatos da natureza.

A partir das sensações, direcionadas a dor e ao prazer, a matéria prima das paixões, Aristóteles traz que só a catarse direcionaria essas sensações transformando-as em estímulo criador ou ao prazer espiritual.

A sensação move o ser, isso quer dizer que o indivíduo interage com ambiente a partir dele, através dos instintos e da vontade, e como seres movidos por paixões, onde “nada ocorre em vão”.

Na Filosofia Primeira, conhecido como Metafísica, obra que traz os conceitos de ato e potência, Aristóteles argumenta as proposições de Heráclito, e Parmêniades, enquanto Heráclito defendia o ser como ser dinâmico o “vir a ser”, Parmênides defendia o ser imóvel, eterno.

Assim Aristóteles traz o ser unificando os conceitos, no “ser em ato” e “ser em potência”, o ser existe em ato, imutável, mas está sujeito a dinâmica do movimento, ele não deixa de ser em ato, mas está sujeito a mudança no seu ser em potência.

Por exemplo: Um objeto como a madeira, não deixa de ser madeira, é o seu “ser em ato”, mas uma cadeira de madeira, é um “ser em potência”, o que não muda seu em "ser em ato", o que muda é o seu "ser em potência".

O saber dessa época, que aqui estou fundamentando, a partir principalmente de Nobre de Melo, é direcionando a fundação do que vem a ser hoje a Psicologia. Aristóteles navegou em muitos saberes, na Arte, Política, Ética, Biologia, Lógica e outros campos de estudo.

O importante em questão é a complexidade do pensamento no apogeu da filosofia helênica, que depois irá declinar em vigência das mudanças político estruturais dessa época.

Essa reflexão sobre o pensar, ao longo do tempo foi desenvolvidas, perpassando releituras e interpretações de muitos pensadores, e nos leva, ao quanto “aristotélicos” ou “platônicos” somos?

Se a elaboração do saber e da reflexão, tem sua fundamentação na nossa cultura dessa época, o quanto sabemos até onde vai a subjetivação e o racionalismo?

Somos seres pensantes ou acreditamos que somos?

Nas escolas somos ensinados a pensar ou a reproduzir?

Questões importantes que deveríamos discutir.

Retornando a filosofia helênica e seu direcionamento ao saber psicológico, terá seu fim após falecimento de Aristóteles, que irá decair entrará em um período onde a filosofia se funde com a religião, o desenvolvimento da psicologia retorna bem mais tarde no Psicologia Tomista, com Santo Agostinho (354-420) e Santo Tomás de Aquino(1225-1274), retornando às reflexões iniciadas no pensamento grego no Séc V antes de cristo.

Essa época Charles Melman chama de “lampejos do pensamento”. Todos os grandes pensadores desde S. Freud, J. Lacan, Winnicot, Minkowski , Jaspers, Griesinger, Jung, Melman, Tyzsleir, e muitos outros, retornam as bases filosóficas, não para encontrar o certo e errado, e sim para compreendê-las e contextualizá-las ao sua época.

Retornamos aos fundamentos e finalizamos a série - O início da reflexão do saber humano ocidental - Origem e desenvolvimento da Psicologia, em que sua influência nos alicerça até hoje no pensamento moderno e pós moderno.

No tempo que filosofia da opinião empírica e moral, do sujeito da ciência, e da psicologização do sujeito, me encontro no exercício do pensar. Na era da informação, o acesso ao conhecimento é imenso, porém a economia do pensamento é prazerosa, não somos criados para pensar.

E como me encontro nessa posição, do esforço de que é pensar em meio a tanta tecnologia, me vejo claramente como Schreber traz na razão de sua loucura, “homem feitos às pressas”, resgatando em uma construção de sabedoria, para aprender a pensar depois de 3 grau completo, não sei o que acham, vejo como um pouco incoerente, e mais incoerente é ver os rumos da própria cultura e consequentemente da psiquiatria atual.

Infelizmente os “homem feitos às pressas” se encontram nas posições institucionais e políticas, pregando as paixões do próprio ego.

Tyszler coloca questões no prefácio de Retorno a Schreber de C. Melman e nos questiona da importância de resgatar as referências clássicas, os filósofos, os teólogos. E logo depois traz:

Só vejo sombras de “homens feito às pressas”, ele urra, e não observamos o quanto os clínicos privados de memória e de doutrina despersonalizam-se pouco a pouco?

O exercício do pensar, não é um exercício do conhecimento em si, é um exercício da prática clínica, ao ofício da profissão que nos propomos como clínicos.

É saber diferenciar o nosso pensamento, e compreender o pensamento do outro, entender o indivíduo como um todo, da sua biologia, ao seu discurso, à sua apreensão da realidade, como o termo utilizado pelo saudoso Nobre de Melo, a "verdadeira empatia".

Em algum tempo, teremos que sair dessa polarização cultural, que se repercute nas áreas do saber, e que nos coloca de frente a própria clínica da Paranoia(que mesmo não constando mais nas nosologias atuais, na prática clínica existe), e não é tão fácil diagnostico como está descrito no DSM V no Transtorno Delirante Persistente.

Devemos seguir em busca de nos posicionarmos como “verdadeiros clínicos”, para além das ciências transitórias, para além das doutrinas ideológicas, para além do dogma do próprio saber. Fazer a clínica do real, da interpretação do nosso saber na singularidade do indivíduo em sua apresentação, assim poderemos aplicar o que a biomedicina nos oferece no nosso tempo.

Certamente não se trata de expor o “erro” ou a “falha” dos clássicos: eles funcionaram, como era lógico que fizessem, com os meios, no sentido amplo, de que dispunham. Trata-se, partindo de novos conhecimentos aos quais eles não tiveram acesso, de apreender as razões de seu fracasso na própria natureza da orientação. E de fazê-lo extrair daí, para nós mesmos, um ensinamento, pois o que invalidou a pesquisa continua a pesar no pensamento psicodinâmico… Quem não percebe a semelhança entre as dificuldades encontradas pela clínica e as refletidas pelas intermináveis discussões sobre a questão de saber se um dado paciente é ou não psicótico?
Paul Bercherie

Obrigado pela leitura!

Bibliografia:

Psiquiatria - Psicologia Geral e Psicopatologia - A. L. Nobre de Melo - 1981
Os Fundamentos da Clínica - Historia e estrutura do saber psiquiátrico - Paul Bercherie - 1980
Retorno a Schreber - Charles Melman - 2006
O que é psicopatologia fundamental ? - Manoel Tosta Berlinck - 1998
Psicopatologia/Metapsicologia - A função dos pontos de vista - Pierre Fétida e Patrick Lacoste - 1992


Série:


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Matheus Guimarães.png

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Sinceramente, hoje mesmo estava conversando com um amigo meu sobre psicologia e na verdade não entendemos nada... mas em uma coisa chegamos ao consenso.
Quando vamos em uma entrevista de emprego e uma psicóloga (trabalha no RH) pergunta casa coisa... tipo assim: Não pode fumar, não pode faltar....
E no final, a empresa nem contrata... seria nós loucos ou a profissional que viaja na avaliação?

De qualquer forma... alguns "psicólogos" ficaram mais louco que os loucos....kkkkk sei lá...

@matheusggr se tiver alguma ideia pra nos ajudar como sair dessa...kkk


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KKKK
Pergunta de difícil resposta. Não entendo muito de RH, mas também não vejo motivo para perguntas dessas. Acaba que vejo essas entrevistas muito engessadas, padronizadas, como se existisse um padrão de seleção, nessa diversidade de pessoas que existe. Acabam perdendo bons profissionais. A dica é nao desistir, e falar a verdade. Quando a porta abrir, terá a liberdade de trabalhar a seu modo, quando trabalhamos do nosso jeito, visando realmente o trabalho, sempre adicionamos ao serviço, por isso tem que fazer o que gosta. Claro que nem tudo é o ideal, e por vezes temos que nos adaptar ao possível. Boa sorte @rogergalvao, aposta nas criptos que muita chance de dar certo! kk

Assunto bem complexo, confesso que tive que ler uns parágrafos umas três vezes, mas gostei muito. Tem muita coisa pra se pensar. Muito obrigada por dividir toda essa informacão conosco :)

Relaxa. Tenho uma pilha de textos que leio mais de 10 vezes. E muitas vezes ainda assim nao entendo, tendo que levar a supervisão de professores para dar uma luz! kk
Obrigado @naturald!

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Nao entendi muito bem os conceitos, pois sou totalmente leigo tanto em psicologia como em filosofia.


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São conceitos mais da filosofia, que fundamentaram a origem do estudo psicológico. Mas são diferentes mesmo, demora um pouco a pegar quem não é da área, mas mesmo assim sempre vale a pena! Valeu @aoteroa!

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