Tio, me dá um token aí?

in #pt5 years ago (edited)

Esse título parece brincadeira mas o assunto é sério e real. Não estou falando de gente como eu, que adora uma faucet para ir enchendo as wallets de pouquinho em pouquinho (ou pouquíssimo em pouquíssimo mesmo) sempre que está na frente do pc.

Estou falando de gente que pede sua atenção inbox para ganhar criptomoedas.

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A Mithril idealizou o que ela chama de mineração social, e a idéia da coisa me lembra muito o que acontece aqui no Steemit, onde produção de conteúdo e interação social são revertidos em recompensas. A ideia deles é que redes sociais já consolidadas passem a usar esse sistema e a cripto deles para recompensar os usuários.

Para startar o ecosssistema da Mithril foi criada uma rede social chinesa, a Lit, que é uma espécie de híbrido tosco de instagram com snapchat (tosco no sentido de dar umas bugadas).

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Em menos de um mês eu vi muita bizarrice chinesa nos histories que me eram sugeridos no feed. Comecei a seguir vários "chinas". Mas estranhamente 95% dos meus seguidores e pessoas que interagiam inbox comigo não eram chineses e sim indianos. Indianos claramente oriundos de classes sociais menos favorecidas (a julgar pelos registros audiovisuais de suas vidas publicados em sesu perfis).

A primeira vez que entrei no meu inbox levei um susto. Dezenas de mensagens pedindo like. Like me back, please like my histories, like my new pictures, like 100% pls, e por aí vai. Costumam ficar com a barra do histories sempre lotada de postagens, todas com conteúdos retirados aleatoriamente da internet. Qualquer tipo de imagem que encontram vale ser postada, o importante é postar massivamente e mendigar likes compulsivamente. Vez ou outra postam conteúdo autoral e que seja referente à própria vida.

O mithril, na data desta postagem, estava cotado a 0.07 $, e não raro (tanto indianos quanto chineses) os usuários postam a screenshot onde revelam a quantidade de MITH que obtiveram naquele dia. Não menos raro se percebe que um dólar por dia é um valor bem viável para a maioria dos mendigos de like.

Se a parcela mais pobre da população da Índia e até da China vive com menos de um 1 dólar por dia, penso eu que a mendicância de criptos é uma atividade econômica até lucrativa para essas pessoas. Mas não é possível ver pedintes chineses dentro do app, somente indianos. Não sei porque. E algo me diz que eles estão sendo discriminados, pois não aparecem nos feeds mesmo que você os siga.

Após 9 meses do seu lançamento o app mudou de identidade visual:

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Deixou de ser Lit para ser Pie Pie. Isso me cheira a gentrificação virtual, será que isso existe?

Conspirações à parte, gostaria de saber o que vocês pensam sobre isso tudo. É possível que um ecossistema tokenizado possa gerar renda a partir de um modelo massivo de mineração social sem controle de conteúdo? E com controle de conteúdo? Porque os pobres da Índia mendigam criptos e o dos China não? E porque os brasileiros pobres nem sabem o que são as criptos? Até que ponto é sustentável uma economia nacional baseada em ativos digitais, pensando na inclusão da base da população neste contexto? Que outras perguntas podem surgir a partir do que foi exposto?

Essas poucas semanas dentro do ecossistema MITH me deixaram muito curiosa com o futuro, pois a transposição da mendicância presencial para a virtual me alertou para o fato de que não adianta muito criarmos novos espaços e instrumentos se eles serão ocupados e utilizados dentro dos mesmos velhos arranjos sociais e econômicos de sempre.

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Eu acredito sim que as criptomoedas, aliadas à inclusão digital, será sim um forte aliado na distribuição de renda e na redução da pobreza extrema no mundo. Afinal 1 dólar pode ser uma fortuna na moeda desvalorizada de algum outro país. O único empecilho pra que essa distribuição de renda ao redor do mundo aconteça são os próprios governos locais tentando barrar o acesso livre da população à internet, como parece ser o que está acontecendo na China.

Que bom que você acredita nesta via para a redução da pobreza, eu também acredito nisto, embora às vezes eu não tenha muita certeza de como isso vai se dar. Pois como você falou existem os entraves estatais e como o Felipe também trouxe, existe uma classe dentro da própria sociedade civil que não tem interesse em difundir esse tipo de informação. Espero que todos esses obstáculos sejam vencidos e que cada vez mais pessoas possam usufruir destas ferramentas. Obrigada pelas considerações.

Eu também acredito nessa perspectiva. Porém terão etapas de desenvolvimento a se construir ainda. E ainda tem um hiato entre a desigualdade financeira, e de acesso a tecnologia. Ainda estamos nós mesmos a compreender como fazer essa tecnologia acessível. Além da regulamentação ser necessária para facilitar uso de moeda fiduciária. Já existe algumas blockchains de renda passiva com esse foco. Mesmo assim acredito que caberá a ativistas sociais trazer formas de integração entre inovações tecnológicas, e o cotidiano da miséria. Assim entendo como primeiro passo, ter formas de realmente provar o conceito de renda na internet palpável a profissionais que também compartilham desse ideal, para depois criar projetos com a economia da internet. Nesse caminho precisamos de mais tempo para economia amadurecer, e criar formas de integrar os projetos a moeda corrente, para trazer já projetos prontos de participação ativa para pessoas que se interessem em ter rendimentos na internet, seja direta ou indiretamente.

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Perfeitas colocações Matheus, muito obrigada. Eu penso muito em tudo isso, em como seria viavel um projeto piloto nesse sentido e você trouxe colocações muito pertinentes que me ajudaram a clarear algumas ideias. Grata!

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Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela sua contribuição!
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Achei seu texto foda porque eu não tinha parado pra refletir sobre isso, mas agora com certeza passarei a refletir! Obrigada.

Querida Aiuna obrigada você por vir e interagir. São questões que estão emergindo agora, por isso nunca pensamos nelas... Mas acho que é um momento legal para a gente começar a discutir esses assuntos né. Obrigada por ter vindo.

Saudações, linda senhorita Aliny

Não tenho certeza sobre esse assunto que você colocou. Entendo pouco dele. Foi boa a leitura para eu refletir um pouco.

A única coisa que surgiu em minha cabeça como argumento para o pessoal chinês não aparecer no feed ou outras atividades, seja o controle que o governo Chines possa fazer em relação ao uso da internet para eles. Talvez restrinjam de alguma forma a tentativa de contato deles com pessoas de outros países, colocando alguma espécie de barreira virtual nisso... Mas, é um assunto que eu não entendo muito.

Obrigado por trazê-lo, ALiny

Boa noite

Oi Juliano, obrigada por contribuir com a discussão. Realmente, não tinha pensado sobre a questão política da China, e faz muito sentido. Também não entendo muito sobre tudo isso, e também não estou entendendo nada desse aplicativo, ontem mesmo ele atualizou e mudou a imagem visual novamente. Rs. Mas fico curiosa e agradeço pelas suas observações. Boa noite.

É possível que um ecossistema tokenizado possa gerar renda a partir de um modelo massivo de mineração social sem controle de conteúdo? E com controle de conteúdo?

O steemit é assim, mesmo. Tem controle de conteúdo, porém da própria comunidade.

E porque os brasileiros pobres nem sabem o que são as criptos?

O governo e classes sociais relacionadas incentivam a ignorância e cria empecilhos perante quem deseja se informar.

Porque os pobres da Índia mendigam criptos e o dos China não?

O acesso à internet dos chineses é bem controlado e censurado mesmo...

Até que ponto é sustentável uma economia nacional baseada em ativos digitais, pensando na inclusão da base da população neste contexto?

Bem sustentável, desde que o sistema dos ativos digitais desenvolvidos tenha uso prático suficiente.

Felipe, obrigada pelas contribuições. Esse tópico sobre a relação da nossa classe desfavorecida com o mundo das criptos é uma das que mais me instiga... pois me faz pensar em como um projeto social nesse sentido poderia ser viável dentro da nossa realidade. Penso muito sobre isso mesmo.

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