Doutora em filosofia defendendo Lula: burrice manifesta?

Se liguem neste tweet da Elika Takimoto, doutora em filosofia e candidata do PT. O absurdo não é defender Lula da ideia tosca de que uma pessoa que não lê livros é desqualificada. Que Lula não seja burro é ponto pacífico (não quer dizer que ele é inteligente, mas tão somente que é esperto mesmo).

Se quantidade de livro lido fosse sinônimo de inteligência não teríamos tantos doutores letrados destilando preconceito (uma forma de burrice manifesta). No mais, os filósofos da antiguidade seriam verdadeiros jumentos porque naquela época nem livro existia.

Elika Takimoto (@elikatakimoto) June 4, 2018

Acho que ela tá dizendo que "não existia livro tal como conhecemos", no caso o formato impresso, que surgiu apenas na idade média (a prensa de Gutenberg é basicamente a invenção mais importante do milênio passado). Mas mesmo que fosse isso que ela quer dizer, simplesmente é uma crítica tosca, uma vez que o conteúdo de algo não deixa de ser bom e fomentar a inteligência das pessoas apenas porque não está impresso.

Dizer que hoje temos livros bem estruturados, com páginas, índices e tudo mais, pode parecer progressista quando se pensa no passado, em que o acesso à literatura era precário tanto a nível técnico (ler em tabuletas de argila ou cilindros de papiro não deve ser confortável) quanto a nível social mesmo (saber ler nem era uma regra).

Porém, esse tipo de crítica que quer provar um ponto (Lula não é burro por ter lido poucos livros) a partir de uma mentira (que não existiam livros na antiguidade — implicando logicamente que se Lula for burro mesmo, então todos os antigos eram jumentos já que "não existiam livros"), é totalmente regressista quando se pensa no mundo virtual, nessa era tecnológica na qual não dependemos de livros físicos pra nos qualificar. Filósofos como Pierre Lévy, alguém que li recentemente e que explora o conceito de virtualidade, o expandindo para muito além da tecnologia (a ponto de defender que uma simples bola de futebol é um objeto que representa o virtual) se envergonhariam dessa "doutora em filosofia" que precisa adulterar a história para provar seu ponto partidário e ideológico.

Aliás, vai ver ela tenha razão... "Se quantidade de livro lido fosse sinônimo de inteligência não teríamos tantos doutores letrados destilando preconceito (uma forma de burrice manifesta)." O conceito de livro pode até ser histórico, mas tem que manifestar muita burrice pra não equivaler um livro com um tomo produzido na antiguidade, com todas as dificuldades que tornam alguém capaz de tal feito muitas vezes superior em determinação e intelectualidade que alguém que, hoje, precisa desmerecer o hábito da leitura para defender seus ídolos.