Mulheres escreviam na Idade Média? - #1.2

in #pt6 years ago

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Com quem Christine de Pizan conviveu?

Voltamos agora com nossa programação normal… Vamos saber mais sobre Christine de Pizan? Pois bem, na medida que fui recompondo as relações de Christine, durante minha pesquisa, me deparei com uma intrigante e próspera e rede de conexões sociopolíticas e culturais entre essa mulher medieval e a alta sociedade cortês de Paris durante limiar entre os séculos XIV e XV. Aos quinze anos Christine de Pizan está casada com Etiénne de Castel, por escolha de seu pai. Ediénne era um jovem promissor, havia recém terminado seus estudos e era membro da família Picard do norte da França. Curiosamente, após a união é que seu, então, marido foi chamado para ocupar o cargo de secretário e notário do rei. Influencias da família Pizan? Talvez sim.

O período que viveram esses personagens históricos foi marcado por episódios de Peste Bubônica e da Guerra dos Cem Anos. Foi então que a roda da Fortuna começa a girar para Christine, bem como para o reino da França. Após a repentina morte o rei Charles V, no fim do verão de 1380, Christine escreveu em seu L'Avision Christine:

...agora nossa porta se abriu para a desgraça e eu, ainda jovem, passei por ela.

Charles V, o Sábio
Charles V, O sábio (1338-1380) | Fonte: Wikipedia

Em meados de 1385 seu pai adoeceu, o que prejudica ainda mais as finanças da família. De acordo com Willard constam nos registros das contas reais, o nome da família de Pizan até o início de 1387, a partir daí não é mais encontrado. O que nos leva a deduzir que Thomas morreu nesse período. Seu marido, Etiénne, por um breve momento torna-se o chefe da família, mas também morre inesperadamente, no ápice de sua carreira como secretário real. Inclusive estava em missão com o rei na região de Beauvais, no outono de 1390, quando morreu por causa da epidemia. Assim, na última década do século XIV, aos vinte e cinco anos de idade, Christine de Pizan encontra-se sem os costumeiros favores do monarca francês, órfã de pai, viúva, além de ter de prover sua família composta por sua mãe, dois filhos e uma sobrinha.

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Manuscritos e iluminuras em obras de Pizan | Edição: Leo de Lara | Fonte: BnF

As opções habituais para mulheres em sua condição, seriam se casar novamente ou entrar para um mosteiro de freiras, um convento, ou uma abadia. Contudo Christine prefere um caminho alternativo da maioria das mulheres. Colocando em prática sua capacidade intelectual e técnica da escrita, ela exerce o ofício de copista por um tempo, enquanto escreve alguns poemas. Alguns anos depois deu início a produção de suas próprias obras. É possível identificar em seus escritos que seu dom para as letras foi encorajado por seu pai. A pesquisadora Julia Anne Nephew especula que “ela estudou com seus irmãos mais novos que teriam professores particulares.” Porém, Willard afirma que, ainda que tenham especulações sobre sua educação, “...informações além do que ela mesma disse é quase totalmente inexistente.” Christine passará a maior parte de sua vida perto da corte real e dos hotéis principesco, nos brilhantes e conturbados dias de Charles VI, o rei que perderá sua razão, e com a rainha Isabeau de Bavière, com quem também teve uma relação de patronato. Vivenciou períodos conhecidos pela historiografia como o “primeiro humanismo”, a Guerra dos Cem Anos e o Grande Cisma.

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Isabeau de Bavière (1370- 1435), Rainha da França | Iluminura em O Livro da Rainha, (MS. British Library Harley 4431) Isabeau de Bavière na presença de suas damas de companhia recebendo um livro em sua homenagem por Christine de Pizan | Fonte: Wikipedia

Hoje Christine de Pizan é considerada uma das primeiras mulheres a exercer profissionalmente a função de escritora. Foi conhecida principalmente como poeta, mas também compôs tratados morais, diplomáticos e bélicos. Vem sendo estudada por pesquisadoras que afirma possuir uma voz enunciadora que tece uma empolgante critica aos escritores antifeministas, à exemplo da medievalista Luciana Deplagne. Independente de ela poder ser ou não considerada uma percursora do feminismo (ou proto-feminismo) de um coisa podemos ter certeza. Christine de Pizan marcou seu nome na França, na Europa, na História. Sem dúvida, a falta de reconhecermos ao menos seu nome, diz muito do que a historiografia tradicional tem a nos dizer. Uma escrita da história, que por muito tempo, priorizou o destaque aos personagens e grupos sociais de uma elite dominante. Excluindo ou reduzindo atores sociais culturalmente marginalizados.

Por hoje é isso, mas apareçam porque ainda tem muito mais medievo a ser explorado! Agradeço sua dedicação na leitura e nos encontramos na próxima.

Uma excelente semana.

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Valeu! Lembrei que na história do Japão se considera o primeiro livro clássico escrito naquela língua a obra de uma autora, Genji Monogatari (Histórias de Genji). Ela foi escrita com um alfabeto simplificado, impostas às mulheres pra reforçar o senso de inferioridade e apesar nunca ter lido dizem que tem fofocas da corte, relacionamentos e sedução. Isso tb leva a Sherahzade de Mil e Umas Noites, mesmo sem autor definido mostra o protagonismo feminino em um mundo árabe rico, poderoso e influente, como imagino ter sido na Idade Media. Sucesso e boa sorte mais uma vez!!

Eu ainda quero muito pesquisar sobre as mulheres que escreveram durante esse período fora do espaço europeu. As pluralidade existente entre os territórios muçulmano, persa, turco é riquíssimo durante a Idade Média. E eu nem consigo imaginar o quanto deve ser na Ásia. Muito obrigado novamente.Logo-100.png

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