A Língua Materna - O Início da Construção Subjetiva

in #pt6 years ago (edited)


Imagem Ilustrativa - Fonte Pixabay


Terminamos com o termo Língua Materna no último post.

Antes de falar sobre a língua materna, trarei alguns conceitos para diferenciar algumas palavras no texto.

A palavra MÃE pode ser utilizada com diferentes sentidos, dependendo do contexto. Como muitas palavras que utilizamos.

Se queremos seu conceito em relação a língua portuguesa, sua classe gramatical, seu significado descritivo, iremos ao dicionário.

Aqui caminharemos na interpretação da palavra, no sentido que refere sua significação.

Existe o símbolo MÃE, símbolo pode facilita ser entendido como uma convenção cultural.

Logo que se lê ou ouve MÃE, cada sujeito vai ter um conceito, mas haverá um consenso ao que se refere, por exemplo àquela que gesta um filho/a, ou que cria um filho/a (Irei me referir ao sexo biológico devido a ideologia de gênero gerar confusão nesse contexto explicativo).

Algumas linguagens como a teoria psicanalítica que estuda a linguagem humana, e se aprofundar nesses conceitos, utiliza também a FUNÇÃO DE MÃE.

Função remete a atividade, a ato, assim não se referindo somente ao simbólico, mas também sua execução em atividade na existência na experiência real entre os seres sociais em questão.

E nos leva àquela velha querela, mãe é quem dá a luz ou quem cuida?

Uma querela infértil, se restrita a essa dicotomia, entretanto podemos discuti-la em diferentes perspectivas.

Á usarei como ponto de partida. É preciso levar em consideração o saber a partir da compreensão e interpretação do caso a caso, a partir do entendimento de cada contexto.

Talvez podemos dizer que o símbolo tanto quem gesta, quanto quem cria poderá se localizar como mãe, poderá haver divergências em seu conceito, mas terá um consenso em utilizar a palavra mãe.

No entanto a função de mãe, somente quem cria pode exercer. E essa função pode ser exercida por diferentes símbolos, mãe, pai, avô, avó, e não tem relação estrita com sexo biológico, tendo relação maior com posições subjetivas exercidas por quem faz essa função.

Tem uma, podemos dizer, uma fórmula, que diz** “a melhor mãe, é a mãe ausente e ao mesmo tempo presente”**, ou seja, que está presente, mas que permite a falta. É preciso essa falta para existir demanda psíquica do desejo, princípio do que se pode entender por se constituir uma subjetividade.

Agora iremos retomar a primeira língua de um bebê humano, a Língua Materna.

A língua materna é a forma do bebê entrar na linguagem. No recém nascido, o aparelho psíquico, é com base nas sensações e percepções no mundo, guiado por uma genética a se construir a partir da interação de relações sociais e biológicas.

Nessa época de extrema importância para desenvolvimento da estrutura psíquica, as sensações maternas são sentidas a “flor da pele” peles bebês, por isso importância da saúde mental materna, que é um fator que por vezes é esquecido.

Muitas mulheres por vezes são submetidas pela vida a exigências imensas, individual e cultural. Ainda mais de "primeira viagem", amamentar não é fácil, ninguém recebe um manual psíquico natural de como ser mãe, por isso a importância também do suporte a mãe, no qual poderíamos chamar de uma das funções de pai. Podendo ser um suporte pela família, pelo próprio pai, ou por serviços especializados.

A partir da** troca de afetos entre o sujeito que realiza a função materna** e o sujeito recém nascido ( irei me referir com só com termo mãe a posteriori no texto). Ocorrem trocas de sentimentos e sensações, estímulos aos aparelhos da sensopercepção como olhar, conversa, músicas, carinho, alimentação, criando assim uma conexão subjetiva.

E a partir dessa conexão se inicia a construção do aparelho psíquico.

Nessa época são formas de prazer, a alimentação, o carinho, e pode haver deslocamentos desse prazer por causas como agressão, doenças.

Quem depois de encher a barriga com algo que gosta não sente aquela sensação de prazer da saciedade?

Essa conexão é a Língua Materna, o bebê chora e a mãe muitas vezes sabe naturalmente se é fome, sono, quando está na hora dos hábitos, um saber intuitivo, de uma conexão que está para além das palavras, e que ao mesmo temo introduz as palavras.

Muitas estruturas psíquicas sofrem devido essa época, infelizmente o mundo não é perfeito, é sujeito às intempéries da vida, e terão muitas circunstancias que envolvem essa primeira fase, como outras fases importantes, que fazem parte do funcionamento humano.

A função de mãe em excesso e em falta pode causar muito sofrimento. E acontece muito, muito mesmo. Existem muitas formas de existir, que na psiquiatria recebeu nome de personalidades, e existe processos patológicos que envolvem a dinâmica do funcionamento humano.

Faz parte da nossa humanidade, somos seres de paixões, da onde vem o "Pathos", da onde saí também o patológico, é uma linha tênue e que se deve ter muito cuidado, a norma é muito ampla e segue de acordo com a cultura e conhecimento vigente.

Hoje em dia estamos em um período conturbado na área médica como um todo, apesar de termos acumulado muito conhecimento, caminhamos como um todo em uma cultura reducionista, que se sobrepõe o capital ao conhecimento, e isso pode patologizar muitos "Pathos" da vida normal como acontece e já aconteceu muito na história.

Retornando vimos que o elã com a realidade se cria a partir da língua materna, no acesso a linguagem social, a linguagem humana, de onde será possível apreender muitas outras linguagens, ponto de partida para as outras etapas importantes com o crescimento do indivíduo.

Tudo isso acontece há milhares de anos, e continua hoje em dia, faz parte da nossa espécie, somos seres sociais por natureza, essa linguagem que nos diferencia.

A função paterna é ainda mais complexa e retornarei em outros momentos. E ainda um último alerta para ter atenção aos tempos pós modernos, é preciso ter cuidado com os gadgets, estão muitas vezes ocupando o espaço das construções subjetivas em indivíduos muito jovens. Eles não transmitem afeto, não devem ser utilizados como substitutivo a interação social real.

E assim vimos a importância de coisas simples, e que fazem tanta diferença na vida individual ao longo de toda vida. Se eventualmente algum governo quiser investir em uma sociedade, é o melhor investimento que têm, investir no afeto humano.

Até a próxima! Obrigado pela leitura!


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